terça-feira, 10 de março de 2020

Nesta primeira semana de março eu pude conversar, aqui em Dourados (MS), com pessoas que vieram da Venezuela. Refugiadas no Brasil, Rosana há 4 anos, e Genesis e Cesar há 1 ano.

Rosana Daza, é escritora, atriz, realizou mestrado em letras na UFGD e agora inicia os estudos de doutorado na UFMS. Foi a primeira pessoa a conseguir o direito de realizar uma dissertação em sua língua de origem na universidade de Dourados. Recentemente, Rosana fundou a Associação Dunamis Cultural, a "organização tem o propósito de identificar o número real de refugiados morando no município e atestar as condições em que essas pessoas estão vivendo. Com isso, será possível oferecer apoio em burocracias e assistência nas necessidades do dia a dia". Casada e mãe de 3 filhas, professora de espanhol, Rosana é também autora livro "Mujeres Inmigrantes".

Rosana falou muito sobre as diferentes realidades de gênero dos imigrantes. As dificuldades que os homens e as mulheres (muitas vezes com seus filhos) passam precisam ser atendidas, precisam de atenção e resolução. Muitas crianças não conseguiram entrar no sistema público escolar pelo fato de serem estrangeiras (a própria documentação as excluía). Além disso, quando entravam eram consideradas "atrasadas". Uma criança que estaria no sétimo ano, muitas vezes entrava no segundo. A justificativa era sempre que a criança não sabia ler nem escrever. Mas, sim, ela sabia, mas em espanhol, o que não era levando em conta. Com a Associação foi possível que as escolas realizassem provas em castellano. Mas sem esse esforço nada teria acontecido.



Gênesis, é formada em artes (música), toca piano, veio junto com seu companheiro, César, que também é formado em artes (música) e toca guitarra e violão. Com eles, também vieram os pais de Gênesis. A decisão de vir para Dourados esteve ligada à Rosana, que é tia de Gênesis. Mas não foi fácil. Ela contou que forma 7 dias de ônibus até chegar ao destino final. Os piores momentos foram até sair da Venezuela, havia medo de que não conseguissem.

César disse que lá tinham tudo, não eram ricos nem pobres, mas eram pessoas que trabalhavam e viviam: a família tinha sua casa, estudaram, iam à praia, alimentavam bem. Mas foi chegando um tempo em que a carne, que era uma refeição diária, teve que ir sendo racionada: dia sim, dia não, uma vez por semana... depois já não havia. Gênesis disse que em sua casa chegaram a ter um pão com queijo por dia apenas para comer. Era passada a hora de ir embora.

A família de César ficou por lá, pai e mãe. Ele sente muita falta, falam por internet todos os dias.

A língua é algo muito importante e significante. Você tem ou não tem. Você pode aprender, mas demanda tempo, experiência, contato... mas também psicológico. Todos eles disseram que foram muito ajudados aqui, chegaram apenas com uma pequena mochila. Não tinham roupas, fotos, comida, dinheiro, lugar onde morar.

Hoje Gênesis dá aulas de musicalização para crianças e trabalhar no bistrô do Centro Cultural Casulo. César também dá aulas de guitarra e violão e trabalha como garçom numa padaria. Faz pouco tempo que estão aqui no Brasil, mas eles têm consciência agora precisar de um tempo para se inserirem como pessoas sociais aqui, trabalhar, ganhar dinheiro, fazer planos. Ambos não conseguem validar seus diplomas nas universidades brasileiras, o que é muito ruim.

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