sexta-feira, 13 de março de 2020

Alguns poemas do livro "Mujeres Inmigrantes", de Rosana Daza.



VERDADES

No existen fronteras,
No existen límites,
Solo existo yo.
Comenzar una y mil veces si fuera necesario,
Existo y no puedo negarlo.
Me miro en el espejo roto,
La pila dejo de mojar mis manos,
Suena la puerta
Entra el miedo y salgo yo.


DIFERENCIAS

Ingenuo,
No soy extranjera,
victoria repite,
no soy extranjera.
Solo tengo la piel oscura,
Los labios gruesos,
Me gusta el olor al mar.
Se levanta de la mesa,
Se limpia los zapatos,
No deja propina,
Y escribe en la servilleta,
no soy extranjera.

LOS QUE SIENTEN

Venezuela patria mía,
Cuanto necesitas personas llenas de valentía,
¿Sientes que vives?
¿Sientes que mueres?
¡Venezuela!
Necesitas a jóvenes que se detengan a pensar,
Que vayas a batallas,
Batallas sin sangre,
Batallas que dejen libertad, unión e igualdad.





Rosana Daza (1982), vive em Dourados (MS), criou uma Associação para apoiar e lutar pelos direitos dxs imigrantxs venezuelanos na cidade sul matogrossense. Foi uma das entrevistadas para o projeto "Quase 100 papéis".

terça-feira, 10 de março de 2020

Nesta primeira semana de março eu pude conversar, aqui em Dourados (MS), com pessoas que vieram da Venezuela. Refugiadas no Brasil, Rosana há 4 anos, e Genesis e Cesar há 1 ano.

Rosana Daza, é escritora, atriz, realizou mestrado em letras na UFGD e agora inicia os estudos de doutorado na UFMS. Foi a primeira pessoa a conseguir o direito de realizar uma dissertação em sua língua de origem na universidade de Dourados. Recentemente, Rosana fundou a Associação Dunamis Cultural, a "organização tem o propósito de identificar o número real de refugiados morando no município e atestar as condições em que essas pessoas estão vivendo. Com isso, será possível oferecer apoio em burocracias e assistência nas necessidades do dia a dia". Casada e mãe de 3 filhas, professora de espanhol, Rosana é também autora livro "Mujeres Inmigrantes".

Rosana falou muito sobre as diferentes realidades de gênero dos imigrantes. As dificuldades que os homens e as mulheres (muitas vezes com seus filhos) passam precisam ser atendidas, precisam de atenção e resolução. Muitas crianças não conseguiram entrar no sistema público escolar pelo fato de serem estrangeiras (a própria documentação as excluía). Além disso, quando entravam eram consideradas "atrasadas". Uma criança que estaria no sétimo ano, muitas vezes entrava no segundo. A justificativa era sempre que a criança não sabia ler nem escrever. Mas, sim, ela sabia, mas em espanhol, o que não era levando em conta. Com a Associação foi possível que as escolas realizassem provas em castellano. Mas sem esse esforço nada teria acontecido.



Gênesis, é formada em artes (música), toca piano, veio junto com seu companheiro, César, que também é formado em artes (música) e toca guitarra e violão. Com eles, também vieram os pais de Gênesis. A decisão de vir para Dourados esteve ligada à Rosana, que é tia de Gênesis. Mas não foi fácil. Ela contou que forma 7 dias de ônibus até chegar ao destino final. Os piores momentos foram até sair da Venezuela, havia medo de que não conseguissem.

César disse que lá tinham tudo, não eram ricos nem pobres, mas eram pessoas que trabalhavam e viviam: a família tinha sua casa, estudaram, iam à praia, alimentavam bem. Mas foi chegando um tempo em que a carne, que era uma refeição diária, teve que ir sendo racionada: dia sim, dia não, uma vez por semana... depois já não havia. Gênesis disse que em sua casa chegaram a ter um pão com queijo por dia apenas para comer. Era passada a hora de ir embora.

A família de César ficou por lá, pai e mãe. Ele sente muita falta, falam por internet todos os dias.

A língua é algo muito importante e significante. Você tem ou não tem. Você pode aprender, mas demanda tempo, experiência, contato... mas também psicológico. Todos eles disseram que foram muito ajudados aqui, chegaram apenas com uma pequena mochila. Não tinham roupas, fotos, comida, dinheiro, lugar onde morar.

Hoje Gênesis dá aulas de musicalização para crianças e trabalhar no bistrô do Centro Cultural Casulo. César também dá aulas de guitarra e violão e trabalha como garçom numa padaria. Faz pouco tempo que estão aqui no Brasil, mas eles têm consciência agora precisar de um tempo para se inserirem como pessoas sociais aqui, trabalhar, ganhar dinheiro, fazer planos. Ambos não conseguem validar seus diplomas nas universidades brasileiras, o que é muito ruim.

quinta-feira, 5 de março de 2020

Hoje visitei junto com a turma de guarani duas comunidades Kaiowa em terras de retomada: Tekoha Ita'y e Guyrakambi'y, no Panambi.

Pude conhecer a família do Ñanderu Joel e Ñandesy Tereza. Conversamos um bom tempo. Depois de uma roda de apresentação, eles falaram sobre a terra, as rezas, os cantos e o poder dos sonhos. D. Tereza contou que foi num sonho que ela recebeu a mensagem e entendeu que deveria começar a rezar e cantar para curar, e que já descobriu como fazer remédios enquanto sonhava. Tereza contou sobre alguns animais, outros seres que vivem no nosso corpo.

Ita'y está há quase 2 anos sem luz. Eles têm um grupo de música e dança chamado Okaraguyjetaperendy. O grupo não estavam completo, mas os que estavam naquele momento cantaram para gente. Algumas músicas tínhamos aprendido na aula de guarani e também cantamos para eles.


 
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Em Guyra Kambi'y pude conhecer a D. Merina (Adelina), uma profunda conhecedora da cultura Kaiowa, seus cantos, cosmologia, história. Dona Merina é filha do grande Pa'i Chiquito. Tal como descreveu Graciela Chamorro:

"Pa’i Chiquito ou Chiquito Pa’i foi um grande líder kaiowá do século XX, na região denominada Ka’aguyrusu ‘Mato Grosso’, pelos Kaiowá. Ele é considerado pelos habitantes da Terra Indígena Panambizinho, situada a leste da cidade de Dourados MS, como seu fundador e último hechakáry ‘xamã que vê a palavra’, que orientou a comunidade a permanecer nas suas terras tradicionais, quando o indigenismo oficial lhe obrigara a abandoná-las e a integrar-se na Reserva Indígena de Dourados. Sua atuação foi decisiva para a permanência de muitas famílias kaiowá fora das reservas, na área da Colônia Agrícola Nacional – CAND, onde Getúlio Vargas fizera uma reforma agrária, nos primeiros anos da década de 1940." (ver: https://osbrasisesuasmemorias.com.br/biografia-pai-chiquito/ )

Coisas para se lembrar e buscar nas anotações: a relação entre o quente e o frio na cultura Kaiowa, na mitologia, nos remédios, nas plantas, nos animais, na pessoas e seus sentimentos. E principalmente nas rezas. A saúde está no frio.





Aguyjevete!