Quase 100 papéis é um projeto de pesquisa e criação dramatúrgica que será desenvolvido a partir de entrevistas com um total de cem pessoas que vivem sob alguma circunstância efetiva de "luta" território sócio-político-cultural em relação a um modelo político, historicamente reconhecido, que (tenta) sistematiza, determina, tenta ditar e delimitar as formas de vida contemporâneas.
A ideia de lutar por papéis pode, num primeiro momento, referir-se a pessoas ou comunidades que estão em busca de algum reconhecimento político-sócio-cultural no Brasil, quase como um direito oficial (documentos) de existir. Contudo, é sabido que milhões de pessoas no Brasil possuem todos os seus documentos oficiais e mesmo assim lutam até a morte por um "papel", sua forma de vida. Existem alguns focos para as entrevistas previstas durante o projeto, tais como populações refugiadas, originárias, quilombolas, transgêneros, vivendo tanto na capital mineira e seus arredores quanto em qualquer parte do país, ou até mesmo fora do Brasil. Pessoas vivendo em assentamentos ou em situação de rua ou de forma isolada entre tantas outras possibilidades que existem como possibilidade de vida e viver. O desejo é que a partir de cada encontro outras pessoas possam surgir para atravessar esta pesquisa. O projeto tem como objetivo proporcionar encontros que sejam capazes de apresentar uma variedade ampla e complexa perspectivas, visões de mundo, situações, desejos, relações com este país chamado Brasil, com o nosso tempo e outros tempos também. Essa rede de encontros e afetos servirão de base para uma criação dramatúrgica.
A primeira ação deste projeto se dará através de vivências em algumas aldeias guarani kaiowá e algumas terras de retomada nos arredores de Dourados (MS) que se darão através do curso intensivo de língua guarani kaiowá, ministrado pela pesquisadora e professora Graciela Chamorro na cidade sul matogrossense. Graciela (IFGD) vem há mais de quarenta anos trabalhando em diversos campos de conhecimento com as comunidades kaiowás da região, inclusive está em vias de concretizar o primeiro dicionário bilíngue kaiowá-português. O curso terá duração de um mês, sendo 80h em sala de aula e 80h em comunidades e aldeias guaranis kaiowás. Fotos, vídeos e textos diversos serão compartilhados no blog ao longo do percurso.
Bibliografia de partida do projeto:
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Metafísicas canibais. São Paulo. n-1 edições, 2018.
CHAMORRO, Graciela. História Kaiowá: das origens aos desafios contemporâneos. São Bernardo do Campo. Nhanduti editora, 2015.
_______. Panambizinho: lugar de cantos, danças, rezas e rituais Kaiowá. São Leopoldo: Karywa, 2017.
_______. Panambizinho: lugar de cantos, danças, rezas e rituais Kaiowá. São Leopoldo: Karywa, 2017.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Cascas. Tradução de André Telles. São Paulo. Editora 34, 2017.
_______. O que vemos o que nos olha. Tradução de Paulo Neves. São Paulo. Editora 34, 2010.
HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. Tradução de Davi Pessoa. Petrópolis. Editora Vozes, 2017.
JUBILUT, Liliana Lyra. O Direito internacional dos refugiados e sua aplicação no orçamento jurídico brasileiro. São Paulo. Editora Método, 2007.
KIDOIALE, Makota; MUIANDÊ, Mametu N'Kise. Senzala, terreiro, quilombo. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 12, página 52 - 61, 2018.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Tradução de Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo. Companhia das Letras, 2015.
KRENAK, Ailton. Encontros. Rio de Janeiro. Editora Azougue, 2015.
MBEMBE, Achile. Crítica da razão negra. Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo. n-1 edições, 2018.
________. Necropolítica. Tradução de Renata Santini. São Paulo. n-1 edições, 2018.
________. Sair da grande noite: ensaio sobre a África descolonizada. Tradução de Fábio Ribeiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2019.
WEIWEI, Ai. Human Flow: não existe lar se não há para onde ir. Documentário. Filme 2h20. https://www.humanflow.com/
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