Relato em processo:
Às vezes é preciso atravessar o tempo, forçar o tempo. Mas tem vezes que o tempo se impõe e nada pode contra ele, senão as leis naturais, o próprio tempo.
Sobre esses lugares falarei em outra postagem. O importante é que agora, vivo, aqui, estou fazendo o exercício de escutar o tempo. De sair da toca, ou de olhar para tudo o que foi feito dentro da toca, que na verdade é uma ação de refletir o mundo, ou parte dele que me alcança; uma ação de criar, recriar, imaginar, fabular, fazer outras realidades permeadas de tempos, lugares e pessoas.
Durante 2020, 2021 e quase todo 2022 este projeto aconteceu de formas muito diferentes. Desde conhecer dezenas de kaiowá e guarani brasileiros e paraguaios, a imigrantes de países como Venezuela, Paraguai, Haiti entre outros, a pessoas em situação de rua, a quilombolas de Minas Gerais, a outros seres: as árvores e suas sementes.
Nem todos encontros foram passíveis de serem fotografados. Entendi que isso é um código por vezes gentil, ora muito íntimo ou arrogante, ameaçador, invasivo, bobo, pueril, estético, político, festivo, mnemônico... enfim... Na maioria das vezes o mais importante foi justamente captar o tempo presente com as pessoas e menos se preocupar em organizar um registro externo.
Uma antropóloga francesa "C.", que conheci no decorrer deste projeto, me perguntou o que eu via em todos esses encontros, o que eu buscava? Essa pergunta ficou ressoando...
Todos esses encontros são como as fotografias (inclusive as que não tiramos), porque elas relevam coisas. Revelam-me o outro, revelam-me a mim, o mundo, ou uma partinha, titica de nada, dele. Revelam o feio, o deplorável, o amargo, o desprezível, o inominável, o medo, o preconceito... revelam o por vir, a beleza, a novidade, a liberdade, a sensação de alegria, de poder poder, de descoberta, de... utopia.
Alguns desses encontros desdobraram-se em amizades, em contatos, de sementes, em esquecimento, em lembrança borrada, em promessa, em aprendizado, em desejo, em fuga, em árvores. O mais certo é que todos esses encontros perfuraram ainda mais o tempo. A noção do tempo, de unidade, de progressão, de fixidez.
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